10 produções audiovisuais que abordam a evolução tecnológica

Parafraseando William Gibson, o futuro já chegou, só não está distribuído de forma equilibrada. A previsão desse futuro tão presente ganhou retratos por meio de inúmeras lentes ao longo dos anos. Afinal, o ser humano é curioso com as consequências das próprias criações. Portanto, questionamentos, projeções e utopias em torno da evolução tecnológica não são novidades nos filmes e séries. O que mudou ao longo dos últimos 30 anos de produções cinematográficas diante desse assunto é a relação homem-máquina e até onde se pode chegar com todos os novos aparatos de projeção de realidade que encontramos hoje (ou poderemos encontrar daqui uns anos).

Cena do segundo episódio da terceira temporada de "Black Mirror", sobre realidade virtual nos games
Cena do segundo episódio da terceira temporada de “Black Mirror”, sobre realidade virtual nos games

Sensação desse semestre, a série original da Netflix, Black Mirror, aborda em diversos episódios as consequências de imersão virtual dentro da vida de um ser humano. Porém, nada que Ridley Scott não tenha feito em Blade Runner, de 1982. Mesmo que com roteiros completamente diferentes, ambos os produtos audiovisuais possuem um propósito semelhante, apontado por Walter Benjamin como a reprodutibilidade técnica e seus desdobramentos dentro da leitura das pessoas diante do mundo na qual elas vivem.

Cena de Blade Runner
Cena de Blade Runner

Tendo isso em mente, separei 10 filmes que retratam os avanços tecnológicos das formas mais diversas possíveis. Do clássico e poético 2001: Uma Odisséia no Espaço até o charmoso e melancólico Her. Confira abaixo a lista completa e, se você é fã do tema, não deixe de assistir:

Matrix (1999)

Parte dos filmes mais vistos da história, Matrix é uma obra prima para os que veneram a realidade virtual. O clássico, lançado em 1999 e dirigido pelos irmãos Wachowski, aborda tanto elementos de avanços tecnológicos quanto de comportamento moral e ético dentro do ciberespaço. Como Henry Jenkins bem definiu, “Matrix levou-nos a um universo onde a linha entre a realidade e ilusão constantemente se fundiam”. Paraíso da convergência tecnológica, o filme integra conteúdos transmídia por meio da metáfora de Neo (personagem principal) pertencendo a dois universos completamente diferentes, porém integrados.

Black Mirror (2012-)

Sucesso entre os fãs da Netflix, Black Mirror retornou no segundo semestre de 2016 com a terceira e mais vista temporada da série. A produção, antes veiculada em TV aberta no Reino Unido, foi criada por Charlie Brooker, jornalista tecnológico e cronista britânico. O propósito dos episódios, cada um com um plot independente, é expor as consequências da relação humano-tecnologia nos dias de hoje. Em alguns episódios, Brooker fala sobre realidade virtual, gamification, redes sociais, avaliação virtual, hackers, crackers e imersão no ciberespaço.

Congresso Futurista (2013)

Com roteiro adaptado do livro “O Congresso Futurológico” (1971), de Stanislaw Lem, o filme mistura animação com live action para falar da obsessão da sociedade com a fama, sucesso e astros de Hollywood. Além da questão de público e privado, eu e ideal de eu e sociedade líquida, o longa metragem de Ari Folman faz uma oposição entre a imagem real de uma atriz em decadência com a sua imagem de sucesso dentro do ciberespaço. O desenho animado, portanto, é usado como ferramenta para diferenciar o mundo real do mundo virtual, sendo o último um lugar utópico, muito mais bonito, completo e passível de felicidade plena. Enquanto o real é apenas uma fonte de frustração para as pessoas.

Estranhos Prazeres (1995)

Dirigido por Kathryn Bigelow, o filme mistura ficção científica com drama e ação policial. Na virada do século (1999), a sociedade está em colapso e encontra em uma nova ferramenta, que circula no mercado negro, uma saída para a vida monótona. O que se vende são CDs contendo filmes em primeira pessoa, que dão a sensação para quem assiste de estar dentro da vida protagonizada por outro ser humano. Ou seja, você pode ser e sentir coisas e situações de qualquer outra pessoa. Uma alusão ao que hoje chamamos de realidade virtual.

Westworld (2016-)

Baseada no filme homônimo de Michael Crichton (1973), a nova série da HBO, criada por Lisa Joy e Jonathan Nolan, retrata um “parque de diversões” futurista ambientado no Velho Oeste e totalmente sintético. Os andróides que ali vivem/trabalham recebem seres humanos que estão livres para fazerem o que quiserem, sem regras, sem punições ou consequências. Novamente, a noção de real e imaginário é colocada em cheque, além, claro, da relação ser humano-robôs.

O Passageiro do Futuro (1992)

Dirigido por Brett Leonard, o filme de ficção científica é uma das primeiras produções a falar sobre a tecnologia como propulsora do aumento de inteligência humana, proporcionando poderes telepáticos e telecinéticos. O enredo gira em torno de Jobe, um jardineiro com deficiência mental, que se torna cobaia do laboratório do Dr. Lawrence. A partir dos experimentos do cientista, Jobe tem seu cérebro ligado a um computador, capaz de aumentar a capacidade cerebral. O que Lawrence não esperava era o reflexo do virtual na mente real de Jobe, dando à cobaia poderes de controle mental e projeção de ideias no físico.

Her (2013)

Vencedor do Oscar 2014 na categoria de Melhor Roteiro Original, o filme de Spike Jonze é dos mais queridos da atualidade. Não só pela direção de arte e fotografia melancólicas, mas pela abordagem da solidão proporcionada pelo avanço da tecnologia. O personagem principal não possui tantos amigos, não expressa tantas emoções, mas se apaixona pelo novo sistema operacional de seu computador. Viver no espaço cibernético, sem a obrigatoriedade de uma relação física, parece mais fácil para ele. A tecnologia imersiva ultrapassa os aparelhos eletrônicos e entra em contato com o mundo humano, como o video game de realidade virtual.

Blade Runner (1982)

Outro clássico de ficção científica, Blade Runner é uma revolução na percepção da cibernética no mundo real. O filme do visionário Ridley Scott se passa numa projeção de Los Angeles, em 2019, na qual o mundo está em plena decadência, decorrente do excesso de consumo e da falta de cuidado com a natureza. O principal desafio dos ditos Blade Runners é diferenciar os seres humanos das máquinas, e esse teste é feito por meio de emoções, sentimentos que, teoricamente, as máquinas não sentem. A crítica aqui também é feita em cima da ética de reprodução tecnológica.

Ex-Machina: Instinto Artificial (2015)

Vencedor do Oscar 2016 de Melhor Efeito Visual, o filme britânico, dirigido por Alex Garland, aborda os questionamentos em torno do famosos Teste de Turing (mesmo princípio visto em Blade Runner – diferenciar homens de máquinas). O dono de uma ferramenta de pesquisa, similar ao Google, possui muito dinheiro, poder e conhecimento de tudo ao seu redor, e está desenvolvendo protótipos de inteligência artificial. Para saber se o Turing deu certo, ele convida um de seus funcionários para testar a capacidade de emoção de uma máquina. O filme também entra nas questões ética e moral dentro da cibercultura.

2001 (1968)

Um dos filmes mais poéticos e semióticos em torno da evolução humana, dirigido por Stanley Kubrick, aborda a relação passado-presente-futuro que todos os seres humanos carregam dentro de si. Mesmo com a tecnologia, não somos capazes de nos desprender dos instintos mais enraizados em nós, mas também não conseguimos abrir mão de tudo aquilo que conseguimos conquistar ao longo dos anos, incluindo a tecnologia.

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